segunda-feira, 1 de março de 2010

Revolta

Detesto gente que me sufoca. Sou como um pássaro que quanto mais preso mais tem vontade de voar.
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Ontem á tarde foi uma tarde estressante. Ao chegar ao plantão já havia uma criança com Down, cardiopata, fazendo uma pneumonia. Fora a taquicardia dela devido a cardiopatia congênita que ela posui (PCA amplo - persitência do canal arterial), ela estava taquidispnéica (cansada) mas com boa SPO2, não estava cianótica, porém chorosa (imagino que pelo desconforto do cansaço). Tinha vomitado algumas vezes, e a colega do plantão anterior fez uma hidratação com uam taxa hídrica muito pesada para quem só tem 6,7 kg. Estava aguardando internação em leito normal, porém a auditora do plano fez uma sacanagem comigo: perguntou se ela tinha doença pré-existente e se poderia precisar de UTI. Claro que respondi sim. Mas eu não sabia que essas informações eram para alegar que ela não poderia ser internada tanto em leito comum quanto em UTI, mesmo já tendo 9 meses de plano. Lá onde trabalho não tem UTI pediátrica. A auditora falou para mandá-la para um centro de referência em cardiologia que lá havia cardiologista pediátrico e ela poderia ser internada lá. Ligueei para lá e disseram que lá não tem cardiologista pediátrica nem leito para crianças. Pedi a auditora que arrumasse uma cardiologista para responder um parecer no próprio hospital. Ela deu dois telefones porém as duas disseram que não respondem parecer.Não liberaram nem ambulância e o SAMU disse que não podia fazera transferência. Confesso que tentei forçar uma situação levando ao hospital do próprio plano (que tem UTI) no carro do pai, com oxigênio e monitorização cardiáca e de O2 para que ficasse em observação ou internada em leito comum. Chegando lá ouvi um esporro da pediatra plantonista que foi minha professora na residência. De que não tinha leito, que eu fiz errado e blablablá. O pai falou com a auditora do plano, e esta disse que ela só tinha carência para ficar 12h na emergência ( o que já havia expirado). Tive que levá-la ao serviço público (onde fiz minha residência). Lá o médico plantonista deu uma de "sei que você foi residente daqui, não entendo nada disso, então prescreve que a próxima colega já está chegando". Foi embora 15 min antes de acabar o plantão e a outra colega só iria chegar às 19:30. O pai me pediu segurando as lágrimas para que eu ficasse no hospital até a outra médica chegar. Eu não podia, mas devia. A bala de oxigênio no meu carro... Daí esperei um pouco até que a enfermeira chefe da emergência me sugeriu outra idéia: que eu escrevesse um relatório para o pai levar à promotoria para que liberassem um leito em UTI particular. Foi o que fiz, e aí a médica voltou. Ah, esqueci de dizer que a mãe dessa criança me tratou super mal durante o plantão mas que eu fiz de tudo para tentar resolver essa situação. A vontade que eu tenho é de ligar para lá para saber como ela está. Mas já me envolvi demais. Ao sair uma auxiliar de lá me comprimentou pelo nome (o que fiquei feliz pois achava que todo mundo me detestava lá por ser incisiva) e na porta da emergência o filho de uma senhora que mora na frente do hospital fez um bocado de elogios, falou que nunca esqueceria de mim, que eu era muito boa. Apesar de não botar meus pés nesse hospital há quase 1 ano fiquei muito feliz por sentir que sou lembrada e querida. Os pais me agradeceram e fui embora indignada com a situação. Queria ligar pra lá, mas sei que não devo (como no caso do recém nascido de 5 meses qu fiz os primeiros atendimentos e entubei). Me sinto mal pacas emocionalmente. Pra completar a tarde chegou uma paciente minha fofa, falando, brincando com febre alta. Fizemos medicação, compressas e a temperatura dela baxou 1º (foi para 38ºC) porém ela convulsionou. Nõ tinham conseguido a acesso venoso para ela antes, não me avisaram e foram tentar na hora da convulsão. Mandei a outra auxiliar largar tudo e vir ajudar a achar um acesso. A songa-monga da farmácia só olhando e eu pedindo diazepan. Nisso jáa tinham 4 auxiliares em cima dela. Pedi para a songa monga achar midazolan que eu faria via nasal, via retal o que fosse já que não conseguiam acesso. Nisso EU estava preparando as medicações (diazepan, soro e o midazolan quando chegou) aí acharam a veia dela e fizeram o diazepan. Ela parou de convulsionar e após uns 5 min tornou de novo. OK, nós controlamos a situação. Mas ver aquela mãe desesperada sem a gete conseguir nem acoplar uma máscara de oxigênio direito foi fo... E para completar à noite, chegou uma criança com microcefalia, que estava anúrico, edemaciado, tinha acabado de sair de uma internação por pneumonia e com febre. Fora as crianças com amidalite, sinusite, diarréia e vômitos, crise asmáica e pneumonia daquela tarde. Foi um caos. Pior de tudo é que não me sinto satisfeita pelo que fiz, por ter sido enganada e triste pela vilania desses planos de saúde. Como uma mãe leiga podia adivinhar que a filha dela com Down iria ter cardiopatia? E aí vêm alegar que ela não podia ficar internada nem em leito comum porque era uma doença pré-existente. Ah, tenha dó...
Dormi cedo, tomei um relaxante muscular e um sedativo. Chegei em casa a mil por hora, sem fome porém não tinha comido nada o dia inteiro. Acordei quase agora com fome e pensando nisso e quis vir para cá. E ainda tenho que ficar ouvindo reclamações, cobranças, crises de ciúmes. Ah tenha dó duplo...
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Repito:
Detesto gente que me sufoca. Sou como um pássaro que quanto mais preso mais tem vontade de voar.

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ARTIST: Buffalo Springfield
TITLE: For What It's Worth


There's something happening here
What it is ain't exactly clear
There's a man with a gun over there
Telling me I got to beware
I think it's time we stop, children, what's that sound
Everybody look what's going down

There's battle lines being drawn
Nobody's right if everybody's wrong
Young people speaking their minds
Getting so much resistance from behind
I think it's time we stop, hey, what's that sound
Everybody look what's going down

What a field-day for the heat
A thousand people in the street
Singing songs and carrying signs
Mostly say, hooray for our side
It's time we stop, hey, what's that sound
Everybody look what's going down

Paranoia strikes deep
Into your life it will creep
It starts when you're always afraid
You step out of line, the man come and take you away

We better stop, hey, what's that sound
Everybody look what's going down
Stop, hey, what's that sound
Everybody look what's going down
Stop, now, what's that sound
Everybody look what's going down
Stop, children, what's that sound
Everybody look what's going down